quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Rostos

Ela perdeu o rosto. Ele simplesmente caiu, não se sabe muito bem como. Agora, onde deveria estar o seu rosto havia apenas um pedaço de pele moldado pelos cachos negros que caiam pelos lados.
Só quando chegou em casa se deu conta de que havia perdido aquela parte não tão importante, pelo que as circunstâncias parecem fazer crer. Agora ela apenas se sentava em frente ao espelho, tentando se lembrar onde estava quando provavelmente perdeu aquela coisa que realmente nunca teve uma forma muito bem definida antes por falta de tempo, realmente.
O espelho refletia sua imagem impecavelmente. O reflexo era mais bem definido que a própria realidade. A superfície plana parecia um buraco oco no meio da casa quente e aconchegante onde nada aconteceria, onde tudo sempre estaria bem, em contraste ao mundo meio disforme e incolor do lado de fora da janela. Aquele mundo onde rostos e copros se perdiam sem nunca achar o caminho de volta, em um fluxo interminável de um não-sabe-se-o-que que costuma ser um monte de pessoas andando, mas que normalmente parece só uma massa única e quase etérea.

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