segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Universo

A árvore seca, sem folhas, símbolo de um passado vazio, melancólico e sujo de inseguranças, pegou fogo, incendiou-se, mas era um fogo verde, verde de folhas de uma primavera que vem a frente.

Mas a mulher ainda tem medo de olhar para trás e encarar quem a olha pelas costas; encarar a si mesma. Ela sabe que era ela quem deveria estar vivendo, mas o seu corpo não é seu.

Ela vai ao fogo, e ela vai se queimar, se assim for necessário para se amar. Que o fogo caia como água, e como água, lave seu corpo, limpando-o do demônio que ela representa. Que o mundo afunde em si mesmo, que o universo ecloda, que o nada se torne real, que o vazio mostre que existe no seu âmago, no seu espírito, e os sete demônios deixarão a chama em paz. E deus mostrará sua face e eu serei o que eu nasci para ser.

Grito Negro - Mário de Andrade

Eu sou carvão!
E tu arrancas-me brutalmente do chão
e fazes-me tua mina, patrão

Eu sou carvão!
E tu acendes-me patrão
para te servir eternamente como força motriz
mas eternamente não, patrão
Eu sou carvão
e tenho que arder, sim
e queimar tudo com a força da minha combustão

Eu sou carvão 
tenho que arder na exploração
arder até as cinzas da maldição
arder vivo como alcatrão, meu irmão
até não ser mais a tua mina, patrão
Eu sou carvão
Tenho que arder
queimar tudo com a força da minha combustão

Sim!
Eu serei o teu carvão, patrão!