segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
Universo
Mas a mulher ainda tem medo de olhar para trás e encarar quem a olha pelas costas; encarar a si mesma. Ela sabe que era ela quem deveria estar vivendo, mas o seu corpo não é seu.
Ela vai ao fogo, e ela vai se queimar, se assim for necessário para se amar. Que o fogo caia como água, e como água, lave seu corpo, limpando-o do demônio que ela representa. Que o mundo afunde em si mesmo, que o universo ecloda, que o nada se torne real, que o vazio mostre que existe no seu âmago, no seu espírito, e os sete demônios deixarão a chama em paz. E deus mostrará sua face e eu serei o que eu nasci para ser.
Grito Negro - Mário de Andrade
domingo, 25 de dezembro de 2011
quinta-feira, 20 de outubro de 2011
Com as duas mãos ela jogou suas ondas castanhas para trás, depois jogou a cabeça como uma leoa; o sorriso faceiro, malandro, os olhos negríssimos brilhando.
Ela andou por duas longas horas em meio as árvores até achar uma pequena clareira, iluminada pelo Sol. Ela rasgou o vestido que cobria seus seios. Pondo a mão dentro de onde havia rasgado, tirou um coração batendo e sangrando. Com a boca ela arrancou todas as artérias, uma por uma.
Com o rosto ensanguentado e a boca metálica, ela se ajoelhou sobre a terra, sobre o mato, sobre a pedra, sobre o galho, e com as mãos que pousaram o coração batendo, cavou um buraco à sua frente e enterrou o coração, pisando na terra que depois jogou por cima.
O silêncio era o Rei.
Todo seu corpo começou a dançar, a vibrar, a suar, a pular, a sorrir, a chorar. Sobre a terra seu corpo ria e chorava; dançava, dançava e dançava. Era uma explosão, um furacão. A Natureza estava ali conspirando a seu favor; A Vida estava ali conspirando a seu favor; O Silêncio estava ali conspirando a seu favor. A vibração, a tensão estava no ar, que se repuxava por todos os lados. E a cabeça dela se jogava de um lado para o outro, ela sorria e os cabelos voavam. Toda ela girava como a loucura em si. O vestido se abria e pulava com ela, como um reflexo do seu corpo. Ah, seu corpo tão consciente de si, tão ardente, tão se desejando, tão se amando. A terra se misturava ao sangue dos seus pés, se tornando parte dela, se ligando a ela, e a energia fluía e se jogava, se espalhava, se esbanjava.
O Céu estava ali, a olhando do alto, a recebendo, sentindo-a chegar cada vez mais perto.
sexta-feira, 7 de outubro de 2011
Seus braços se armaram, seguindo a direção das asas, e aos poucos seus músculos foram relaxando, relaxando; relaxando foram os músculos do braço e das pernas - mas sem trair sua posição. Depois foi descendo pela espinha, relaxando os músculos do peito e da barriga, em um trajeto libertador.
O Ar, seu amigo, a acariciava no rosto, entre as pernas nuas, na barriga e nos seios puros. Passeava pelo seus braços e fazia cócegas nos seus pés. Ele soprou sua nuca, e levantou seus cabelos negros e curtos.
A mente dela começava a limpar, se abrir, a se lavar. Sua cabeça, antes lotada de pensamentos, agora esvaziava aos poucos. As imagens e os sons eram bloqueados.
E sua cabeça esvaziava, esvaziava, esvaziava, esvaziava...
... esvaziou e ela pulou.
Pulou sem nem sentir, caiu em queda livre. O Ar, seu amigo, soprou com força e delicadeza, combinação que apenas à ele é permitida, estufando as asas dela.
De uma só vez, as asas a puxaram para trás, depois ela rodopiou, rodopiou e rodopiou até o vento soprar outra vez, mas desta vez como quem diz:
- Vai! Seja livre! Voe e voe, e nunca mais volte, pois eu sacrifico meu amor por ti como o preço a pagar por sua liberdade. Vai! E voe como um pássaro, uma fênix, um anjo. Não irei contigo. Esta jornada será solitária, deixar-te-ei para todo o sempre, pois é isso que mereço, é isso que mereces. Vai! E conheça a solidão, que é épica, que ama a todos como ninguém, que amar-te-á como eu te amei.
E ela planou com as asas abertas, sem levar aquelas palavras no coração, mas carregando um sorriso que já dizia tudo. O sorriso do amor que apenas uma anja pode ter. Um amor que, de tão grande, se deixou ir, sem uma vez olhar para trás, sem uma vez derrubar uma lágrima, mas amando, para sempre amando.
O problema é quando o desejo não correspondido se torna paixão não correspondida. Aí é água no fogo, é um gelo, é uma agonia odiosa, que retesa os músculos e abre todo o seu corpo. O polvo vai embora e deixa nada no lugar. Ah, os meu platonismos ainda me matam!
E quando a gente se sente correspondido? Fica tudo mais colorido, né? Até seu dente torto parece uma graça no espelho! Depois a gente esquece Platão e a vida dá um oi...
quinta-feira, 11 de agosto de 2011
Nota de solidariedade à família do jovem assassinado na Paraíba
Por Jean Wyllys
08/08/2011Eu, Jean Wyllys, deputado federal que defende a causa de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transgêneros (LGBT), entre outras, venho através desta prestar solidariedade à família de Marx Nunes Xavier, um jovem de 24 anos, que, ao tentar evitar que dois homens agredissem um homossexual foi assassinado na Praia do Jacaré, em Cabedelo. Estendo minhas simpatias também à família do jovem a quem Xavier tentou proteger.
Esse crime que chocou a Paraíba na manhã desta segunda-feira (8) trouxe novamente e da maneira mais trágica possível, a discussão da homofobia às manchetes dos jornais. Junto com o recente caso de um homem de 42 anos que teve mais de metade da orelha decepada ao ser confundido, ele e o filho, com um casal gay, a morte desse jovem explicita a urgência e a importância da aprovação de uma lei que criminalize a homofobia e proteja a população de crimes motivados por ódio, intolerância e preconceito.
Quando essa intolerância e preconceito passam a atingir também os nossos aliados fica mais do que nunca claro de que precisamos pensar na pauta de LGBTs como uma pauta de direitos humanos e não uma exigência descabida de uma minoria. Precisamos assegurar os direitos de todos os cidadãos e cidadãs brasileiras de ir e vir.
Não se trata apenas de punir o crime em si, mas sim de atacar as circunstâncias, os discursos homofóbicos e fundamentalistas que incitam esses assassinatos brutais. Incitar o ódio faz do incitador um cúmplice. O que fanáticos e fundamentalistas religiosos mais têm feito nos últimos anos é violar a dignidade humana de homossexuais através de seus discursos de ódio.
Os números do Grupo Gay da Bahia e da Anistia Internacional que registram que um homossexual é morto a cada dois dias (das 260 mortes contabilizadas em 2010, 46% ocorreram no Nordeste) mostram a importância de se aprovar o substitutivo que está sendo construído Frente Parlamentar pela Cidadania LGBT. O texto final do substitutivo, com nome tentativo de Lei Alexandre Ivo será apensado ao PLC 122 e esperamos que seja votado em outubro. O legislativo não pode mais se omitir.
A defesa da Dignidade Humana é um princípio soberano da Constituição Federal e norte de todo ordenamento jurídico Brasileiro. O limite da liberdade de expressão de quem quer que seja é a dignidade da pessoa humana do outro. Precisamos impor limite a esses abusos e assegurar a dignidade do povo brasileiro.
*Jean Wyllys – Deputado federal
Aqui tem um link direto para o blog do Deputado Federal Jean Wyllys, onde este texto foi postado originalmente: