quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Nota de solidariedade à família do jovem assassinado na Paraíba

Por Jean Wyllys

08/08/2011

Eu, Jean Wyllys, deputado federal que defende a causa de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transgêneros (LGBT), entre outras, venho através desta prestar solidariedade à família de Marx Nunes Xavier, um jovem de 24 anos, que, ao tentar evitar que dois homens agredissem um homossexual foi assassinado na Praia do Jacaré, em Cabedelo. Estendo minhas simpatias também à família do jovem a quem Xavier tentou proteger.

Esse crime que chocou a Paraíba na manhã desta segunda-feira (8) trouxe novamente e da maneira mais trágica possível, a discussão da homofobia às manchetes dos jornais. Junto com o recente caso de um homem de 42 anos que teve mais de metade da orelha decepada ao ser confundido, ele e o filho, com um casal gay, a morte desse jovem explicita a urgência e a importância da aprovação de uma lei que criminalize a homofobia e proteja a população de crimes motivados por ódio, intolerância e preconceito.

Quando essa intolerância e preconceito passam a atingir também os nossos aliados fica mais do que nunca claro de que precisamos pensar na pauta de LGBTs como uma pauta de direitos humanos e não uma exigência descabida de uma minoria. Precisamos assegurar os direitos de todos os cidadãos e cidadãs brasileiras de ir e vir.

Não se trata apenas de punir o crime em si, mas sim de atacar as circunstâncias, os discursos homofóbicos e fundamentalistas que incitam esses assassinatos brutais. Incitar o ódio faz do incitador um cúmplice. O que fanáticos e fundamentalistas religiosos mais têm feito nos últimos anos é violar a dignidade humana de homossexuais através de seus discursos de ódio.

Os números do Grupo Gay da Bahia e da Anistia Internacional que registram que um homossexual é morto a cada dois dias (das 260 mortes contabilizadas em 2010, 46% ocorreram no Nordeste) mostram a importância de se aprovar o substitutivo que está sendo construído Frente Parlamentar pela Cidadania LGBT. O texto final do substitutivo, com nome tentativo de Lei Alexandre Ivo será apensado ao PLC 122 e esperamos que seja votado em outubro. O legislativo não pode mais se omitir.

A defesa da Dignidade Humana é um princípio soberano da Constituição Federal e norte de todo ordenamento jurídico Brasileiro. O limite da liberdade de expressão de quem quer que seja é a dignidade da pessoa humana do outro. Precisamos impor limite a esses abusos e assegurar a dignidade do povo brasileiro.

*Jean Wyllys – Deputado federal

Aqui tem um link direto para o blog do Deputado Federal Jean Wyllys, onde este texto foi postado originalmente:

http://jeanwyllys.com.br/wp/nota-de-solidariedade-a-familia-do-jovem-assassinado-na-paraiba-08-08-2011

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Almond Blossoms - Vincent Van Gogh

Post duplo - A Santa; O Fanático

Esses dois contos são super antigos, mas eu lembrei deles enquanto escrevia o do post anterior, então lá vão os dois ao mesmo tempo.

A Santa
Era uma vez, uma Igreja. Esta igreja tinha um belíssimo vitral com a imagem de uma santa.
Esta Santa todos os dias olhava aquelas pessoas que entravam na sua igreja, lá do seu vitral, e por incrível e ruim que pareça, ela não se compadecia de nenhum sofrimento e não se alegrava com nenhuma vitória, além de às vezes achar o livro que o padre lia um verdadeiro absurdo.
Uma dia ela começou a se sentir realmente estranha, e o que ela se deu conta a deixou temerosa: ela se deu conta de que não se compadecia com nenhum sofrimento exatamente porque sentia prazer neles; não se alegrava com nenhum vitória, se enraivecia com elas; além de atender apenas as promessas que se referiam ao pior do Ser Humano. Isso a deixou um pouco triste, também, porque, afinal, não é assim que se espera que uma santa seja.
Constatando tudo isso, a santa do vitral decidiu ir embora da Igreja - infelizmente, quando ela tomou essa decisão era a hora da missa.
Quando a igreja não podia estar mais cheia, o vitral começou a se rachar com estrondo nas linhas que marcavam a imagem da Santa da paróquia, que então, simplesmente desceu (com toda elegância, obviamente) do vitral e saiu andando como se não fosse mais que um pedaço de vidro.
Os fiéis não sabiam como entender aquilo. Um milagre de deus ou uma manifestação do diabo? E como nos momentos de dúvida o melhor é sair correndo, os fiéis e o padre esvaziaram a igreja.
Do lado de fora, a luz do sol se refletia na santa, que já havia, precariamente, alcançado a escadaria que a levaria atá a rua, e de lá só deus sabe.
Algum fiel incrivelmente corajoso e temente a deus pegou uma barra de ferro e decidiu dar um fim naquela representação demoníaca.
A Santa não se sentia bem. Ela se sentia exposta e envergonhada com todas aquelas pessoas na praça em frente a igreja olhando-a como se fosse uma aberração da natureza, até que viu um belo jovem correndo com um pedaço de ferro na mão.
Ele acertou-a em cheio, quebrando-a em pedacinhos.
Os cacos tocados pelo milagre se espalharam pela calçada.


O Fanático
Um turbilhão de coisas passava pela sua mente. Um turbilhão de coisas ruins passava pela sua mente.
A violência, a ignorância. Pecados, crimes, vandalismo, drogas. Por que as pessoas faziam isso? Por que eles matavam, mentiam, batiam? Por que eles estupravam, abortavam? Pedofilia? Zoofilia?
Sequestro? Tiros? Qual era o gosto que eles tinham por sangue? Sofrimento?
Mas o real problema se duplicava, porque além de existir gente capaz de fazer o mal inconsequentemente, existiam aqueles que não faziam o mal, mas defendiam e incitavam.
Ele não era claro o suficiente? Não existiam homem e mulher? Onde está o casamento? A família? As mães e donas de casa? Valores?
A exterminação já havia chegado uma vez. Chegaria outra. Chegaria outra?
O cansaço lhe invadia. As lágrimas afogavam seus cândidos olhos.
Devo acabar com isso? Matar-me e não ver mais? Não! Valores? Valores! Matá-los? Exterminá-los? Seria o certo? Acabar com o mal? Ele era um servo. Ele seria um servo? Matá-los? Matá-los!
Matá-los? Sim!
Ele quer. Eu sei.
Ele sabia.
A arma levantou e os gritos não tiveram tempo de correr.

(Qualquer semelhança com algum caso bem macabro que tenha acontecido a pouco tempo é só coincidência mesmo, rsrs)