sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Queimadas

No dia 12 de Fevereiro eu fiz aniversário. Logicamente, não fui o único. Outras pessoas também fizeram aniversário, e, ao contrário de mim, ganharam uma festa e presentes. Em um desses casos, um homem decidiu dar um presente a um outro homem, irmão dele. Um presente a altura do que eles eram, homens: uma mulher para estuprar.

Um grupo de sete homens, entre eles, os dois irmãos e alguns amigos, planejaram uma festa de aniversário, onde eles iriam encenar um assalto e estuprariam as mulheres da festa, com exceção de duas, que eram namoradas de dois dos mandantes do futuro estupro coletivo(vocês sentem a dimensão desse termo?). Então, no dia 12 de Fevereiro, enquanto eu era acordado de madrugada para receber parabéns por telefone, sete homens estupravam seis mulheres, todas conhecidas, colegas de trabalho deles. Duas dessas mulheres conseguiram identificar os estupradores, provavelmente arrancando a máscara que um deles usava. Essas duas mulheres foram assassinadas.

E essa não é a primeira vez em que eu me pego tendo nojo e vergonha de ser homem. Não, não é nojo e nem vergonha alheia, é nojo e vergonha de mim mesmo. É nojo e vergonha de saber que eu pertenço à mesma parcela da sociedade responsável por casos como o de Queimadas.

Eu não consigo imaginar como um grupo de sete homens, entre eles pessoas próximas às vítimas, tenham friamente planejado tudo o que foi feito. Eu não consigo imaginar como, em um grupo de sete homens, nenhum deles, um, apenas um, não tenha parado e não tenha dito não. Apenas UM que tenha se dado conta do que eles estavam prestes a fazer, poderia ter sido o suficiente para impedir, nem que fosse indo à polícia e denunciando.

Como sete homens, vendo o terror estampado nos rostos daquelas mulheres, foram capazes de estuprar e matar, sem ter parado para pensar, sem ter parado para considerar o que era tudo aquilo? Muito provavelmente, eles estavam imaginando que aquilo era apenas uma brincadeira de homens. Calma aí, pessoal, é só uma brincadeira! É só uma piada, ha ha!

Uma brincadeira cujo brinquedo eram as mulheres. Mulheres que foram estupradas e foram mortas. Mulheres que eram conhecidas, "amigas", daqueles homens.

Mulheres que, como sempre, foram vistas, foram usadas como objetos sem valor, sem consciência, sem desejo, sem medo, sem uma vida inteira nas costas. Eram mulheres que trabalhavam, estudavam, tinham família, tinham sonhos, tinham relacionamentos, tinham suas mágoas, tinham suas felicidades, mas que, naquele momento, não passaram de objetos que não chegaram ao nível da masculinidade daqueles homens. Não eram dignas do respeito das criaturas superiores que são os homens (sim, eu estou sendo irônico). Mulheres que não valeram mais que o desejo sexual, o desejo de "provar que sou Homem", não valeram mais que um presente de aniversário.

Blogagem coletiva de repúdio ao caso de estupro como presente de aniversário.

Alguns links sobre o assunto:
http://escrevalolaescreva.blogspot.com/2012/02/estupros-como-presente-de-aniversario.html
http://www.renatacorrea.com.br/ser-paga-ou-ser-pega-a-logica-da-propriedade-e-o-estupro-de-queimadas
http://blogueirasfeministas.com/2012/02/chamada-blogagem-coletiva-repudio-estupro-presente/
http://borboletasnosolhos.blogspot.com/2012/02/este-post-faz-parte-da-blogagem.html

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