sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Pedras Brancas

Pela primeira, comprei um livro pela Estante Virtual. Foi Lolita do Vladimir Nabokov, por R$1,99. Sim, eu comprei um livro por apenas R$1,99. Gente, isso é um absurdo ( no melhor sentido, claro). Infeliz de mim, que não conheci  esse site antes de pagar mais de cinquenta reais por livros que não tem metade da importância que Lolita tem. Enfim, ao efetuar a compra, eu esperava que tudo ocorresse da forma mais informal possível, como sempre acontece em compras online, principalmente para quem está acostumado a só comprar livros pelo Submarino. Mas, qual não foi a minha surpresa ao receber um e-mail do vendedor que eu escolhi para comprar o livro?

Pausa para explicação:
A Estante Virtual é uma espécie de "guia" de sebos de São Paulo. Quando você vai comprar um livro, você escolhe qual o sebo que julga melhor e então compra dele. O site, no fim, funciona apenas como uma ligação entre o vendedor e o comprador.
Fim da explicação.

O primeiro e-mail foi apenas para agradecimento pela minha escolha. O vendedor, através de suas palavras, se mostrou tão educado e preocupado com a qualidade do atendimento e com o tratamento ao cliente, que meus lábios ganharam vida própria e se abriram em um enorme sorriso. Mesmo que o ocorrido tenha sido tão simples, eu gosto de sentir essa ligação entre as pessoas; essa sensação de respeito mútuo, respeito gratuito, que não existiria em circunstâncias comuns, mas por um pequeno esforço de uma pessoa que nunca me viu na vida, existiu.

Na mesma semana, recebi outro e-mail do vendedor. Dessa vez, ele me mandou uma crônica, que resumirei dizendo apenas que, ela contava a história de como ele se tornou uma espécie de colecionador de pedras brancas recolhidas na praia. Sim, exatamente, pedras brancas recolhidas na praia. Essas pedras brancas são, para ele, um forma de agradecer diariamente a tudo que ele tem. Não que ele não possa desejar ou lutar por algo melhor, mas ele se sente grato por aquilo que tem, pelo privilégio de ter o que tem, seja lá o que for. Tudo isso começou depois que ele recebeu uma pedra do mesmo tipo da filha dele, se eu não me engano. Desculpem. Memória fraca. A partir daí, ele começou a juntar pedras brancas para distribuir para as pessoas, como um sinal de preocupação e respeito.

Ainda na mesma semana, chegou o livro. Junto com o livro, um pequeno embrulho com uma pedra branca minúscula dentro. Ela é do tamanho da ponta do meu dedo mindinho. Talvez menor. Ela também é perfeitamente branca, como um símbolo da paz, de acordo com o próprio livreiro.

Quando eu vi a pedrinha, fui tomado por uma felicidade gigantesca. A única coisa que ficou na minha cabeça foi uma frase bastante estúpida: ainda existe amor em São Paulo. Sim, eu sei que tudo isso pode não passar de uma estratégia de marketing do livreiro em uma tentativa de fazer seus clientes se sentirem especiais e voltarem a comprar dele sempre. Mas mesmo tendo consciência de que essa era a explicação mais provável, não pude deixar de ficar feliz, sorrindo igual a um bobo.

A pedrinha está guardada, mas ao contrário do que ela possa significar para o livreiro, para mim ela sempre estará lá como um lembrete de que o calor humano ainda existe. É só procurar.

3 comentários:

  1. Ah, eu esqueci de passar o link do livreiro:
    http://www.estantevirtual.com.br/livreirodosaracas
    Aí está!

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  2. Que bacana. Adoro quando coisas assim acontecem comigo! A gente está tão acostumado com a indiferença que se surpreende com atitudes como essa!

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