Tudo que eu queria era ser o senhor do tempo. Com o meu cetro, eu controlaria os ponteiros do relógio de plástico preto, que repousa na prateleira de vidro parafusada na parede azul do meu quarto, cuja decoração eu detesto com tanta força.
Com o meu cetro de diamantes, eu faria a roseira do meu quintal florescer e ser a roseira mais linda já vista. Com meu cetro, eu faria a próxima semana chegar logo. Com o meu cetro, eu faria o momento de crise passar em menos de um segundo daquele relógio preto lá de cima.
Com meu cetro de ouro, eu faria as pessoas que eu amei, mas que já se foram, voltarem. Com meu cetro, eu faria com que as pessoas que eu amo, nunca se vão. Ser o senhor do tempo me permite ser egoísta desse jeito. Eu traria a tempestade mais rápido, só para ouvi-la batendo no meu telhado. Mas então, eu faria ela ir embora o mais rápido possível, depois de me lembrar que existem pessoas que não podem se proteger dela, e por isso, sofrem muito, tudo às custas dos meus privilégios.
Com meu cetro de madeira, eu faria a dor passar logo e nunca mais permitiria que ela voltasse. Com meu cetro, eu faria o mundo rodar mais rápido, até o ponto onde não há mais miséria nem sofrimento. Com meu cetro, eu me levaria até o meu último minuto de vida, só para ver como é e depois voltaria no tempo antes que este minuto acabasse.
Com meu cetro de barro, eu tentaria salvar o mundo, porque eu sempre achei que isso fosse uma obrigação minha. Com meu cetro, eu me levaria até o dia em que eu começarei amar e a ter orgulho de mim. Até o dia em que o medo já terá deixado de existir e eu confiarei em mim mesmo.
Com o meu cetro, eu controlaria o tempo.
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