domingo, 12 de fevereiro de 2012

Uma Ficção

Quando ela era pequena, mas bem pequenininha mesmo, ela gostava de brincar com bonecas, assim como todas as garotas da idade dela costumam gostar. Mas, ao contrário de todas as garotas da idade dela, ela não imaginava histórias onde ela era a princesa e havia o príncipe que vinha lhe salvar. Não. Ela imaginava que ela era a prefeita de uma grande cidade. Sim, exatamente, nada de castelos, nada de princesas inocentes com vestido cor de rosa, na de príncipes viris em cavalos brancos, mas prefeita.

Ela também gostava de ler muito, mas muito mesmo, principalmente livros repetidos. Ela gostava de se imaginar como uma das personagens do livro e em como ela agiria na situação narrada. Ou, às vezes, ela se via como a autora do livro sendo entrevistada em grandes programas e andando em tapetes vermelhos.

Quando ela assistia a um filme, ela interpretava a protagonista na solidão do seu quarto, usando alguns cobertores como figurino.

Quando ela cresceu, ela começou a ficar sozinha em casa e sua inocência começou a ir embora junto com sua imaginação. Ela começou a ser responsável por várias coisas e ela se tornou o contrário do que era. De "risadinha", como era chamada pelo seu pai, para uma menina sem cor, que perdeu a paixão pelos livros que tanto amava, que perdeu a paixão pelos filmes que protagonizava, que perdeu a paixão pelas músicas que cantava no chuveiro, que perdeu a paixão por si mesma.

Mas, apesar de tudo, ela ainda sentia umas cócegas bem lá no fundo do peito, onde era bem difícil de alcançar. Mas ela sentia. Ela sabia que havia algo ali e ela se decidiu a não deixar aquilo fugir. Por um tempo, ela tentou se encontrar. Ela encontrou sua paixão na arte, na música e na moda. Aos poucos, a realidade voltou a lhe estapear e ela perdeu a paixão por tudo aquilo que fazia seu coração bater, de novo.

Um dia, ela se viu só, vazia, mais do que nunca. Ela se viu sem emprego, sem faculdade, um fracasso. Ela se viu sem paixão, sem graça, sem cor, sem sorriso. Ela se viu se forçando a sorrir, se forçando a parecer alegre e satisfeita. Mas tudo que ela sentia era vazio e vergonha. Uma vergonha insuportável que travava seus membros, que pesava seus ombros e curvava sua espinha.

A menina que sonhava em ser prefeita ao invés de princesa se escondeu com medo, mas isso não significa que ela foi embora. Ela ainda está lá e a mulher de agora sabe disso e vai dedicar sua vida a não deixar essa menina morrer.

2 comentários:

  1. Engraçado quando alguém escreve uma coisa que acaba tendo um significado pessoal para outra pessoa. Esse texto me lembra algumas pessoas e até vejo um pouco de mim nele.

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    1. É verdade, Gabriela! Isso acontece bastante comigo. Normalmente, em um romance, sempre tem aquela personagem que se torna muito especial, porque a gente meio que se vê nela e a sua história acaba tendo um significado especial pra gente. :D
      Fico feliz que você tenha passado por aqui!

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