- Alô? Oi, Bê... você não voltou pra casa?
Ela tentava sorrir para fingir naturalidade e alegria, forçando e contrariando os músculos do rosto e os olhos tristes e desesperados.
Era um final de tarde de um verão extremamente quente. Lolita sentada na cama, cruzando e descruzando os pés, que só há pouco tempo atrás conseguiram alcançar o chão. Com uma mão segurava o fone no ouvido, com os dedos da outra, enrolava o fio esticado do telefone pousado no chão, nervosamente. Os cabelos claros amarrados, um short jeans bem curto e uma camiseta florida lhe davam um ar infantil, de criança besta, intensa, que não sabe o que quer e quer tudo.
- Eu fiquei esperando... - ela sussurrava submissa.
- Que nem uma criança boba. - agora timidamente, com embaraço e frustração.
Ela começou apenas a ouvir e seu sorriso tentou se manter vivo por várias vezes seguidas, morrendo todas as vezes. Aos poucos, os olhos foram voltando a brilhar, o sorriso foi começando a tomar força com as palavras mudas do telefone. Ela sorria para acreditar que estava tudo bem, que ainda havia esperança e que ele ainda ia voltar. Ela sabia que ele não ia voltar e seu coração ardia.
Conforme ele falava, ela ia ficava avermelhada, tímida, com uns dentes brancos e infantis na boca. O fio vermelho se enroscando mais e mais nos seus dedos conforme a luz do sol se esvaia do quarto.
- Eu ainda quero ser sua bonequinha. - disse com voz amarrada, impedida, os olhos começando a vazar, as mãos tremendo. Ela baixou a cabeça, encostando o queixo no peito. Ela não estava mais tentando sorrir e só chorava silenciosamente, soluçando levemente:
- Tá... tá bom... - ela balançava a cabeça concordando.
- Tá... - ela limpou as lágrimas com a manga da camiseta.
- Tá... - fungou.
- Também te amo. - num último sorriso, de saudosismo antecipado e conformismo.
Lolita deixou o fone cair no colchão junto com seu corpo, que só tremia e soluçava.
Lolita se levantou, pegou a jaqueta vermelha, a mochila e saiu do quarto escuro do motel, perdido em algum canto de uma estrada de terra.
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