domingo, 8 de janeiro de 2012

Os faróis

Ele não sabia mais o que fazer. Naquele momento todas as suas esperanças estavam voltadas ao quadrado de vidro na sua parede, retratando o céu noturno, silencioso como o fim do mundo. De todas as possibilidades que ele tinha em mãos, nenhuma lhe parecia satisfatória.

Uma obrigação, como narrador, seria revelar que para este homem, a situação em que ele se encontrava não era tão rara assim. Ele era indeciso por natureza, e todas as noites eram vazias e silenciosas como o fim do mundo. Na cama, antes de dormir, ele esperava que algum carro passasse na rua deserta e iluminasse a parede  do seu quarto por alguns segundos. Os únicos segundos em que ele conseguia respirar aliviado até dormir.

O medo, a insatisfação, a indecisão eram seus amigos mais íntimos; eram recorrentes na sua vida, apesar de tão movimentada. Seus pés, sempre tão pesados, se arrastavam por onde ele andava, e seus lábios seguravam a sombra de um sorriso.

Naquele momento, a decisão que precisava ser tomada, mudaria sua vida para sempre, e mais uma vez, uma solução que beneficiaria a todos, não lhe vinha a mente. Com lágrimas de um desespero infantil nos olhos, ele foi até a cozinha. Com o coração pulando como um louco, abriu uma garrafa de vinho, encheu um daqueles vidros de maionese usados como copo, e tomou tudo de um gole. Bateu o copo na mesa.

Suas costas doíam. Seus ombros pesavam. A cabeça agora girava. Ele ligou o rádio, tentou relaxar um pouco, mas seu corpo simplesmente não permitia, ele pedia movimento, ele pedia ar. Como estava abafado. Como aquele sofá conseguia ser tão desconfortável? Ai, essa calça que só machuca.

Com  um casaco e um cachecol recém colocados, ele saiu na noite gelada. Estava chuviscando um pouco. Ele pegou um táxi e foi até a Avenida Paulista. Lá, a caminhada começou e foi longa. Por algum motivo, as luzes dos faróis dos carros e o barulho de suas buzinas, principalmente as buzinas, o acalmavam. Lhe davam um pouco de nostalgia, o faziam pensar que ele fazia parte de algo grande, de algo maior. Essa sensação o libertava um pouco.

Essa história não vai ter fim. A grande decisão que ele ia fazer? Isso é problema dele, afinal de contas, quem estava fazendo um estardalhaço desnecessário sobre isso era ele mesmo. Minha obrigação aqui acabou.

P.S.: a imagem foi tirada do site olhares.com e apesar de não ser a Avenida Paulista, traduz parte da história muito bem, obrigado ;D

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