No último dia de inverno, com a neve derretida
enchendo o vilarejo de barro, Rosemary se sentava no chão de madeira da sua
casa, enquanto olhava pela porta aberta. Um pedaço do sol já podia ser visto.
Aos poucos, sua luz foi entrando, invadindo, dando as boas vindas, com um sorriso
no rosto, como se fosse uma criança. Lentamente foi subindo pelas pernas nuas
da menina, lhe causando arrepios e um fraco sorriso. Havia muito tempo que nada
dava tanto prazer à menina como aquele humilde pedacinho de sol, até que ele
finalmente bateu em seu rosto. Ela alegremente sentia como se tivesse morrido.
Rosemary sabia que não ia para o céu quando morresse.
Sabia que não era digna de estar lá, próxima ao grande e bom deus tão
prometido. Ela sabia que não havia salvação para os seus treze anos tão pesados.
Mas naquele momento, com o sol acariciando sua pele sem uma ponta de cor,
salvação era a última coisa em que pensava. Depois daquele dia, inclusive, a
ideia de salvação deixaria de fazer qualquer sentido na cabeça dela, assim como
a ideia de felicidade já havia se perdido há muito tempo atrás. O sol iluminava
seu peito vazio, os olhos sem lágrimas, sem cor. Seu coração pesava, suas
pernas pesavam. Os poucos momentos em que a moça se levantava e andava, eram
insuportáveis, como se seus pés fossem feitos de algum metal bem pesado e
incômodo, como se ela estivesse andando dentro da água. Durante um minuto,
enquanto sentia o sol, ela acreditou que poderia deixar seu corpo em paz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário