quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Sete Demônios


A moça estava com o rosto inchado, com o corpo cheio de feridas, com as mãos amarradas a cordas na frágil madeira da cama. Ela parecia tão pesada mas ao mesmo tempo tão frágil, como se fosse derrubar a cama ao mesmo tempo que fosse se quebrar fragilmente em pedacinhos. O suor escorria violentamente pelo seu corpo etéreo, seus dentes já estavam sujos de sangue e a língua triturada pelos dentes rachados. Seu corpo sem nenhuma cor tremia enquanto as cordas repuxavam sua pele tão quebradiça, arrancando mais sangue ainda, enquanto deixava apenas a carne viva(ou não) à vista. Os olhos injetados, sangue saindo das orelhas e secando sobre suas bochechas.

Ao pé da cama havia um espelho de corpo inteiro, meio velho e sujo, equilibrado precariamente sobre pés de madeira já apodrecida, estava virado para ela, obrigando-a a se ver refletida. Ela abriu a boca e do buraco saiu um ronco, algo parecido como o de um porco, só que bem mais alto e longo. O ronco era pesado, como se estivesse carregando uma enorme bigorna consigo.

Montes de tijolos vermelhos, a lama seca e acumulada, passos dentro da água funda. Um piano sendo derrubado, Atlas carregando o mundo, uma pomba morta caindo do alto do céu, turbilhão no fundo do oceano criando redemoinhos azuis e infinitos, ensurdecedores, pacíficos, burocráticos e devastadores.

O exorcista sempre a frente da moça, sempre a encará-la, esperando ela ter coragem de se olhar realmente.

Ops, agora eu percebo um detalhe: as cordas nunca estiveram presas à cama, apenas aos seus pulsos. As janelas e a porta sempre estiveram abertas e a água benta nunca foi necessária, nem daria muito resultado, realmente. Cair no infinito, sentir o ar no rosto sarando suas feridas, esvaziando seu corpo e coração, sabendo que o chão nunca chegará, a obrigando a se conformar com a queda, com o nada, com a sua morte lenta e sua vida infinita. Ser feliz no precipício. Deixar o turbilhão levar, sabendo que não há outra forma a não ser ser feliz.




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