sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Ela abriu as suas asas, alvas como apenas as suas asas podiam ser. Seus delicados pés descalços se levantaram nas pontinhas dos dedos, como fazem as bailarinas do Bolshoi.

Seus braços se armaram, seguindo a direção das asas, e aos poucos seus músculos foram relaxando, relaxando; relaxando foram os músculos do braço e das pernas - mas sem trair sua posição. Depois foi descendo pela espinha, relaxando os músculos do peito e da barriga, em um trajeto libertador.

O Ar, seu amigo, a acariciava no rosto, entre as pernas nuas, na barriga e nos seios puros. Passeava pelo seus braços e fazia cócegas nos seus pés. Ele soprou sua nuca, e levantou seus cabelos negros e curtos.

A mente dela começava a limpar, se abrir, a se lavar. Sua cabeça, antes lotada de pensamentos, agora esvaziava aos poucos. As imagens e os sons eram bloqueados.

E sua cabeça esvaziava, esvaziava, esvaziava, esvaziava...






























... esvaziou e ela pulou.

Pulou sem nem sentir, caiu em queda livre. O Ar, seu amigo, soprou com força e delicadeza, combinação que apenas à ele é permitida, estufando as asas dela.

De uma só vez, as asas a puxaram para trás, depois ela rodopiou, rodopiou e rodopiou até o vento soprar outra vez, mas desta vez como quem diz:

- Vai! Seja livre! Voe e voe, e nunca mais volte, pois eu sacrifico meu amor por ti como o preço a pagar por sua liberdade. Vai! E voe como um pássaro, uma fênix, um anjo. Não irei contigo. Esta jornada será solitária, deixar-te-ei para todo o sempre, pois é isso que mereço, é isso que mereces. Vai! E conheça a solidão, que é épica, que ama a todos como ninguém, que amar-te-á como eu te amei.

E ela planou com as asas abertas, sem levar aquelas palavras no coração, mas carregando um sorriso que já dizia tudo. O sorriso do amor que apenas uma anja pode ter. Um amor que, de tão grande, se deixou ir, sem uma vez olhar para trás, sem uma vez derrubar uma lágrima, mas amando, para sempre amando.

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